O que é que a gravura tem?

quarta-feira, janeiro 17, 2007

Os vários caminhos da gravura

A Tarde - BA
29/12/2006 - 10:11

Os vários caminhos da gravura
Além de encerrar a programação 2006 da galeria, a exposição sobre gravuras, Matrizes, também abre espaço para a campanha Natal Sem Fome Criança é para Brincar e para Ler

Márcia Ferreira Luz
Litografia, xilografia, linóleo, serigrafia e metal. Todas as técnicas de gravura estão reunidas na coletiva Matrizes, que a Ebec Galeria de Arte apresenta até hoje. São trabalhos dos artistas plásticos Adalberto Alves, Adriano Castro, Baldomiro, Mestre Duda, William A e Juan Toulier (in memoriam), que revelam ao visitante de que maneira nasce a gravura. Os temas são variados, mas a mostra encontra harmonia no caráter informativo. Dessa maneira, as obras se complementam.

Além de encerrar a programação 2006 da galeria, a exposição também abre espaço para a campanha Natal Sem Fome Criança é para Brincar e para Ler. Até o final da tarde, as pessoas podem doar brinquedos e livros que serão repassados a crianças de comunidades de baixa renda.

A preocupação social também marca os trabalhos do artista Adriano Castro. Ele mostra sete matrizes em diferentes técnicas e usa as peças para propor uma reflexão sobre a violência no mundo, guerras e conflitos. “Essas coisas não saem da minha cabeça”, frisa.

Os trabalhos apresentados por ele foram mostrados em salões e bienais na Bósnia, Itália, Espanha e França. “Coloquei, na coletiva, as técnicas com que eu gosto de trabalhar”. Essa exposição é a continuação do projeto, mantido pela galeria, de realização de uma mostra de gravuras por ano. Desta vez, porém, por sugestão de Castro, o grupo de artistas decidiu expor matrizes. “Essa é uma oportunidade para o público ver de onde as gravuras vêm”, comenta.

Numa referência à obra Coluna Infinita , de Constantin Brâncusi, artista plástico romeno que viveu entre 1876 e 1959, Baldomiro edificou uma torre com telas de serigrafia de diversos tamanhos. Brâncusi dizia: “Não procureis fórmulas obscuras ou mistérios. É a alegria pura que vos dou. Olhai minhas esculturas até enxergá-las. Os mais próximos de Deus as terão visto”. E essa foi a idéia que o baiano quis relembrar.

Além da torre sinuosa, ele também apresenta uma série de serigrafias, entre as quais três inusitadas: uma, com a xerox de um documento dele dos tempos de escola; outra, com a imagem da própria mão revelada ao Sol; e, ainda, uma com a frase “Posso ajudar?”, feita para um cliente do ramo comercial. Esses itens são referências a Marcel Duchamps, pelo fato de o artista ter deslocado os elementos do cotidiano funcional e tê-los tratado como objeto de arte.

A vida cotidiana ganha espaço na coletiva por meio dos trabalhos de Mestre Duda. Ele valoriza, nas matrizes, a essência mais popular ao seu redor. Já William A, homem do interior baiano premiado recentemente no salão da Espanha e no Salão Regional 2006, apresenta trabalhos em metal e xilogravura em que aparecem sucintas formas e texturas, enquanto formas e relevos ganham evidência nas peças de Juan Toulier, artista plástico peruano que viveu em Salvador.

A esse grupo junta-se, ainda, Adalberto Alves, um dos destaques da 8ª Bienal do Recôncavo. Ele exibe a série Fobias , com oito matrizes em metal que questionam a transitoriedade do corpo. “Meu processo artístico tem como referencial questões relacionadas ao corpo humano: como índice, por meio da marca subjetiva do meu próprio gesto; como temática, nas diversas problemáticas do corpo – acuado, violentado, cultuado, supostamente livre; como lugar de diversas intervenções; ou, ainda, como corpo icônico e sua força expressiva”, explica.

Em seu levantamento Ar tistas gravadores do Brasil (1984), o crítico Jacob Klintowitz afirma que a gravura ainda pode se impor como uma técnica em si, “afastando a imagem de uma irmã menor da pintura”. Adalberto Alves, porém, ressalta que não acredita nessa idéia de irmã menor da pintura. “A gravura já se impôs como linguagem autônoma. É óbvio que a pintura é uma técnica tradicional e a mais popular entre todas. Entretanto, a arte de gravar já foi difundida em vários países. No Brasil, a gravura possui lugar de destaque”. O que falta, frisa Alves, é “mais incentivo e divulgação das pesquisas sobre a gravura tradicional ou sobre trabalhos experimentais da gravura contemporânea”.

Matrizes | Coletiva com Adalberto Alves, Adriano Castro, Baldomiro, Juan Toulier (in memoriam), Mestre Duda e William A | Até hoje, das 9h às 19h | Ebec Galeria de Arte (3240-4743) | R. Amazonas, 746, Pituba | Entrada franca.